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Via-láctea – Soneto XIII (Olavo Bilac)

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“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto…

E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”

E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas”.

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A maioria dos grandes poetas concorda que os poemas não têm propriamente uma função. Os bons poemas simplesmente são — e isso já lhes basta. Não é possível negar, entretanto, que a poesia pode ser terapêutica na mesma medida em que não tenha a pretensão de sê-lo. Se você acha que a poesia é um mero passatempo para desocupados ou uma válvula de escape para malucos de toda ordem sugiro que repense seus preconceitos e comece a ler a boa poesia. Para ajudá-lo nessa empreitada, eis alguns motivos para você começar a ler poesia (clique sobre os tópicos para acessar os poemas):

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Fotógrafo de si mesmo

Um adolescente estava fumando um cigarro de maconha com seu amigo, próximo da linha férrea da Vale, que passa pela região central de Governador Valadares, MG. Lá pelas tantas, decidiu sentar sobre os trilhos para tirar uns ‘selfies’. Colocou nos ouvidos os fones do celular (provavelmente para ter uma sensação mais intensa) e ficou ali, ouvindo música alta e tirando ‘selfies’. O amigo, que não estava com fones no ouvido, ouviu a óbvia locomotiva se aproximando (tão simples, tão certa). Mas não conseguiu estabelecer um contato eficaz com o amigo, fotógrafo de si mesmo. Para o jovem, foi o fim do caminho. Se o dia dele foi bom, eu não sei. Mas ali, no espaço interditado, a noite desceu sobre seu corpo (a noite com seus sortilégios).

O Rio (Manuel Bandeira)

Ser como o rio que deflui
Silencioso dentro da noite.
Não temer as trevas da noite.
Se há estrelas nos céus, refleti-las.
E se os céus se pejam de nuvens,
Como o rio as nuvens são água,
Refleti-las também sem mágoa
Nas profundidades tranqüilas.

Tema e voltas (Manuel Bandeira)

Mas para quê
Tanto sofrimento,
Se nos céus há o lento
Deslizar da noite?

Mas para quê
Tanto sofrimento,
Se lá fora o vento
É um canto na noite?

Mas para quê
Tanto sofrimento,
Se agora, ao relento,
Cheira a flor da noite?

Mas para quê
Tanto sofrimento,
Se o meu pensamento
É livre na noite?

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