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A verdade é relativa?

Hoje em dia todo mundo acaba dando sua opinião sobre tudo. Como a maioria acredita que todos somos iguais e que ninguém é melhor que ninguém, a variada sorte de opiniões acaba convencendo a muitos de que não existe propriamente uma verdade, mas várias. Já não acreditamos na beleza – porque, segundo dizem, a beleza está nos olhos de quem vê; e já não acreditamos que há pessoas melhores que outras – porque justificamos a maldade dos maus na ineficiência do governo, na corrupção, na pobreza (e nunca na falta de caráter ou nas decisões infelizes que seus antepassados tomaram e eles não souberam senão ratificar).

Mas voltemos à verdade. Muitos falam em “sua verdade” e em “minha verdade”. O que pensar disso? Dizer que existem várias verdades é, evidentemente, um mau uso da linguagem. Em vez de buscar um grau de certeza razoável a respeito das questões, as pessoas preferem chamar de “verdade” o que na realidade é uma simples opinião, um gosto pessoal ou uma opção entre várias possíveis. Vejamos uma coisa de cada vez.

Em primeiro lugar, há as opiniões. Uma opinião bem fundamentada geralmente pretende ser um representante mais ou menos fiel da verdade a respeito de seu objeto (pretende ser a adequação do pensamento à realidade). Porém, as opiniões, como leituras pessoais que são da realidade, podem ser sandices que não merecem mais que vinte segundos de nossa atenção. O valor de uma opinião depende do tempo que a pessoa gastou em sua elaboração, das fontes que consultou e da experiência de vida que utilizou para formulá-la. Duas opiniões podem ser muito diferentes e, apesar disso, ter valores equivalentes, desde que enfrentem a questão com o sincero desejo de alcançar a verdade, ainda que partam de pontos de vista diferentes. Contudo, isso não quer dizer que existam várias “verdades”. Existem, sim, vários modos — mais ou menos adequados — de encarar as questões.

Também é preciso diferenciar o que é verdade e o que são gostos pessoais. A afinidade que temos por determinados bens sensíveis (alimentos, cores, estilos de moda etc) e não por outros em nada afeta a seguinte verdade: seu organismo psicofísico é atraído por determinados estímulos e o do seu vizinho por outros. O estabelecimento de hábitos de consumo depende de uma série de fatores individuais, familiares, sociais e cósmicos — a maioria dos quais não está sob nosso controle. Nossas preferências pessoais não são propriamente nossa “verdade”, mas a verdade a respeito do próprio universo e das coisas criadas.

Por fim, há as opções que fazemos por determinadas soluções práticas para a nossa vida. Ora, se uma nação se adaptou bem ao presidencialismo e outra, ao parlamentarismo, daí não se extraem duas “verdades”, mas uma só: povos diversos, em épocas diversas, escolhem os regimes que melhor se adaptam a suas características particulares.

As situações pelas quais passamos são muito variadas e o posicionamento que cada um de nós assume diante da vida e ao longo da vida, também. Isso acontece porque, como disse São Paulo, hoje vemos como num espelho, de maneira confusa (ou seja, vemos pedaços de imagens, e não a realidade inteira), mas depois veremos face a face; agora, conhecemos de modo imperfeito, mas depois conheceremos como somos conhecidos. Como somos conhecidos por quem? Ora, por Deus! A verdade é aquilo que se passa na mente de Deus a cada segundo e em cada momento em que ele nos confirma na existência. E como Deus é um só, uma só, também, é a verdade a respeito da totalidade da existência.

(Publicado no Diário do Rio Doce, em 27.04.2016)

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