fbpx

Para ter vida intelectual é preciso ser uma pessoa virtuosa

Se você pretende entrar em uma vida de estudos precisa conhecer melhor como funciona a inteligência e para que ela serve. Veja bem: a inteligência é o instrumento do homem virtuoso, que pode melhor manejá-la. Isso porque a verdade e o bem crescem no mesmo terreno e se alimentam das mesmas raízes. Daí a importância de reconhecer cada pequena verdade, mesmo que a princípio ela lhe seja desagradável. Quando você pratica uma verdade que conhece se abre para verdades que não conhece.

A virtude é fundamento do saber. A moralidade é o princípio primeiro do qual dependem a verdade, a beleza, a unidade e até mesmo o ser. Como a verdade e o bem se alimentam da mesma raiz, se você é um homem que busca a virtude naturalmente você está se preparando para receber as verdades que você persegue através do seu estudo.

O ser humano pensa com a sua alma. Assim como a visão dos olhos, de um modo geral, depende da saúde do corpo, assim também a visão da alma depende da saúde da alma — depende das virtudes. O esforço de conhecimento exige atenção, para que você consiga dar foco às suas pesquisas, e julgamento, para que você dê o devido peso às informações que absorve. Ambas são prejudicadas quando as paixões tomam conta de você. Quando você consegue acalmar as paixões e direcioná-las a objetos adequados, suas faculdades intelectuais têm espaço para atuar.

As grandes intuições ocorrem para aqueles que têm a humildade de se colocar, diante da Inteligência Divina, como ignorantes que são.

E qual é a virtude própria do intelectual? A virtude própria do intelectual é a estudiosidade. Trata-se de uma temperança moderadora. Na sua vida de estudos, é preciso encontrar um ponto médio. De um lado há o risco de negligência — você não busca as fontes do conhecimento que pretende adquirir; e, de outro, há o risco da curiosidade exagerada — que muitas vezes nos leva a perder o rumo. O bom senso exige a temperança moderadora, que deve ser modulada de acordo com a sua condição de vida. Se você tem família, tem um trabalho que lhe toma seis ou oito horas por dia, não é sensato que você estude oito horas por dia. O recomendável, no começo, em qualquer caso, é que você estude duas ou no máximo três horas por dia.

Vá devagar no começo: é preciso entrar no mar pelos regatos, devagarinho, até ser capaz de enfrentar o mar infinito do conhecimento.

(Este texto é o terceiro comentário — de um total de vinte — ao livro “A Vida Intelectual”, de A.-D. Sertillanges.)

Assista ao vídeo:

 

Related Articles

Para estudar de verdade, é preciso que você queira de verdade

O intelectual é um consagrado: é com essa assertiva que o Sertillanges começa o primeiro capítulo de seu livro “A Vida Intelectual”. Mas quem é o intelectual? Intelectual é aquele que pretende direcionar o olhar de seu espírito para o alto, encontrar as causas primeiras e, se possível, busca propagar o conhecimento da verdade e do bem entre aqueles que estão ao seu alcance.

O intelectual deve desenvolver seu próprio espírito a fim de ter um contato pessoal com o Verbo Divino. Essa prática lhe dará acesso ao santuário admirável do conhecimento. O estudioso pode se dedicar aos estudos em tempo integral ou pode ter uma profissão que lhe dê o sustento. O importante é ter uma dedicação profunda e séria. Só àqueles que se dedicam de coração a verdade se entrega; a verdade só se entrega a quem se faz escravo dela.

Antes de entrar na vida intelectual é necessário avaliar nossas reservas. A entrada nessa vida…

Solidão e convivência: a vida de estudos é feita dessa tensão

A maioria das pessoas acha que quer ter vida intelectual, mas não tem noção do quê devem abrir mão para nela ingressar. Para estudar de verdade, você terá de fazer escolhas. Comece, então, optando pela simplificação.

Você deve simplificar a sua vida antes de começar a estudar de verdade.

Em primeiro lugar, o seu ambiente de estudos deve ser um ambiente austero, bonito, que lhe permita entrar em sintonia com o assunto que tem em mente. A vida social também deve ser simplificada. Não é interessante que você frequente todas as festas da região. Conserve a solidão no começo, para que você possa encontrar-se a si próprio. No livrinho Imitação de Cristo há a lição de alguém que de cada encontro social voltava um pouco menos ser humano — ou seja, voltava um pouco menos ele próprio. É preciso muito treino para conservar sua individualidade nos encontros sociais. O homem médio não consegue isso e se perde…

Orientação para o início dos estudos

Você quer estudar sozinho? É preciso ter cuidado! É um pouco arriscado sair por aí, só, tentando assimilar, sem mais, as lições acumuladas por três milênios de sabedoria. A quem se aventura seguir, por conta própria, uma vida de estudos, geralmente se pode dizer, com muita razão, repetindo o que os soldados romanos disseram a Jesus Cristo crucificado: És capaz? Então salva-te a ti mesmo! O problema é que eu e você não somos a segunda pessoa da Santíssima Trindade. E geralmente também não temos o perfeito conhecimento das dificuldades que enfrentaremos ao trilhar os tortuosos caminhos da uma vida intelectual. E em algumas das ruelas, em alguns dos atalhos, em algumas das moradas iniciais nós podemos nos perder; parar para descansar e nunca mais encontrar ânimo — ou orientação — para seguir adiante.

Por isso é importante encontrar orientação para o trabalho inicial (e também para as bifurcações não-sinalizadas). Isso idealmente deve acontecer através de mestres…

Para começar a ler Platão

É muito bom que você tenha interesse em estudar Platão. Porém, a não ser que você seja um gênio autodidata, pode não ser bom que você comece pela leitura direta (e seca) dos diálogos. Isso porque no começo dos estudos as pessoas não têm habilidade suficiente para compreender o que, raios, está sendo tratado pelos interlocutores. No início, os olhos do estudante são como os olhos de um recém-nascido: só enxergam vultos.

É verdade que em algum ponto de uma vida de estudos o aspirante a filósofo sairá da caverna e terá sua vista ofuscada pelo Sol. Sim, é verdade. Mas para compreender o que é essa luz e como voltar a enxergar aos poucos, é preciso que você já tenha entendido que a vida na caverna, a visão das sombras, não é propriamente uma vida plena; e, principalmente, é necessário que você tenha desenvolvido um desejo firme o suficiente pela luz do Sol. E isso se faz…

Responses