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Para que servia o bobo da corte

Vocês sabem para que servia o bobo da corte? Ele servia para, de um modo caricato, como quem diz mentiras ou sandices, dizer verdades inconvenientes sobre o cotidiano da corte.

No momento em que o bobo falava, todo mundo fazia de conta que não acreditava em nada do que era dito; e fingia que aquilo não passava de brincadeira.

Porém, o que ele dizia era coisa séria.

A pergunta é: por que esse intruso era não só aceito dentro da corte mas sobretudo escalado como um personagem essencial da vida palaciana? Justamente porque sua fala era a oportunidade de trazer para o espaço público — portanto, reconhecido e sancionado pela realeza — fatos constrangedores, fofocas, rumores ou simplesmente mentiras verossímeis que tinham alto potencial destrutivo.

Não fosse assim, essas fantasias sobre as quais toda reunião de duas ou mais pessoas gosta de confabular seriam tratadas exclusivamente em segredo. E ninguém duvida: focos incontroláveis de fofocas e intrigas cultivadas no escuro têm potencial de corroer, ao ponto da destruição, os alicerces dos maiores impérios.

Moral da história: se as fantasias das pessoas (por malucas que sejam) não encontram lugar para manifestação, o resultado disso é que de qualquer modo elas encontrarão um lugar para manifestação.

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Há metafísica bastante em não pensar em nada (Alberto Caeiro)

V

Há metafísica bastante em não pensar em nada.

O que penso eu do Mundo?
Sei lá o que penso do Mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.

Que ideia tenho eu das coisas?
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do Mundo?
Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).

O mistério das coisas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o Sol
E a pensar muitas coisas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o Sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do Sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do Sol não sabe o que faz
E por…

Um conselho a quem queira fazer literatura de ficção no Brasil hoje (Olavo de Carvalho)

Aluno: Em nosso país, com o atual estado da linguagem, qual lhe parece o grande desafio para quem pretenda fazer literatura de ficção?

Em primeiro lugar, você terá que começar a trabalhar essa linguagem que existe. Deverá pegar esse tecido de chavões, de lugares-comuns, e trabalhar para descobrir o que está no fundo deles e como você pode transformar uma coisa na outra. Não adianta você querer chegar diretamente em uma linguagem mais elevada. Você não conseguirá. Nós sempre temos que trabalhar a língua existente. Eu tenho procurado fazer isso: pegar desde a fala mais vulgar possível e elevá-la quando possível; e, depois, voltar a essa fala vulgar e… Eu não vejo outra maneira de trabalhar isso. Afinal de contas, a não ser que os seus personagens fiquem totalmente inverossímeis, eles terão de falar mais ou menos como as pessoas [comuns] falam. Por outro lado, não há porque limitar o seu padrão de…

A verdade é relativa?

Hoje em dia todo mundo acaba dando sua opinião sobre tudo. Como a maioria acredita que todos somos iguais e que ninguém é melhor que ninguém, a variada sorte de opiniões acaba convencendo a muitos de que não existe propriamente uma verdade, mas várias. Já não acreditamos na beleza – porque, segundo dizem, a beleza está nos olhos de quem vê; e já não acreditamos que há pessoas melhores que outras – porque justificamos a maldade dos maus na ineficiência do governo, na corrupção, na pobreza (e nunca na falta de caráter ou nas decisões infelizes que seus antepassados tomaram e eles não souberam senão ratificar).

Mas voltemos à verdade. Muitos falam em “sua verdade” e em “minha verdade”. O que pensar disso? Dizer que existem várias verdades é, evidentemente, um mau uso da linguagem. Em vez de buscar um grau de certeza razoável a respeito das questões, as pessoas preferem…

O maior país católico do mundo

”Não deixe que o fato de ser brasileiro te impeça de ser cristão. Porque, saiba, isso impede de ser cristão. O Brasil tem quinhentos anos, e cadê os santos andando por aí e fazendo milagres a torto e a direito? Compara isso com os últimos quinhentos anos de qualquer outro país cristão… Ser brasileiro desqualifica você em noventa por cento para o cristianismo. O brasileiro ouve e fala como um papagaio. Ele não compara o que vê na religião com o contexto real de sua vida. Ele não percebe que quando fala com Deus fala como um papagaio, e quando fala com qualquer outra autoridade, por menor que seja, como um segurança de shopping center, fala como se estivesse diante do juiz de sua vida”. (Prof. Luiz Gonzaga)

”Conversando em 1986 com um dos maiores conhecedores de religiões comparadas no mundo, Whitall N. Perry, fiquei surpreso e um tanto ofendido…

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