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Otto Maria Carpeaux: “Prefiro a companhia dos ateus à dos crentes”.

A Revista Bula publicou uma boa entrevista que Otto Maria Carpeaux concedeu em 1949 ao jornalista e escritor Homero Senna. Dela destaco o seguinte trecho, muito espirituoso:

Carpeaux 5
Otto Maria Carpeaux

Foi apresentado por Álvaro Lins ao público brasileiro como escritor católico. Ainda o é?

Pertenço à Igreja Católica; tudo o mais é questão de foro íntimo. Estou estranhando o “ainda”, embora compreenda os motivos da pergunta. Mas por mais que se abuse da Igreja para fins diversos, ela é que fica, fundamento e vaso das tradições cristãs, cuja indispensabilidade no mundo presente e futuro se me afigura tão certa como a citada inevitabilidade do socialismo… Mas não me compete defini-la. Não escrevo sobre teologia. Sou leigo, e os leigos gozam de liberdade maior do que pensa a gente extramuros. Não se conhece bastante, aqui, a liberdade dos católicos da França e da Alemanha ocidental. No resto, você me permita citar Chamfort: “Prefiro a companhia dos ateus à dos crentes. Na presença de um ateu ocorrem-me todos os argumentos filosóficos em favor da existência de Deus; na presença de crentes ocorrem-me os contra-argumentos”.

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As mais importantes peças de música de todos os tempos

Aqui está a seleção de obras musicais de que Otto Maria Carpeaux constituiu o Apêndice B de seu livro (controverso e, para meu gosto, imprescindível) Uma Nova História da Música (2ª Edição, revista e aumentada, Livraria José Olympio Editora).

Pretendo adicionar, com o tempo, os comentários que o próprio autor dedicou a cada uma das obras e, sempre que possível, links para vídeos que contenham boas execuções.

Segundo Carpeaux, nessa lista “só foi incluída uma seleção das grandes obras permanentes, além de um reduzido número de outras obras, de grande importância histórica. Mas infelizmente, só pouquíssimas obras dos primeiros séculos foi possível incluir, porque não são verificáveis todas as datas do século XVI e muito menos as dos séculos XIV e XV”.

Como a lista do Carpeaux não é exaustiva, incluirei também outras peças que ele próprio mencionou ao longo do texto. Dois registros são importantes: i) as peças ‘canônicas’, ou seja,…

William Blake (1757 – 1827)

“Blake, poeta lírico de inspiração simples e musical, é, ao mesmo tempo, o porta-voz de todos os anjos e demônios do Universo; a sua obra foi das mais vastas e mais difíceis jamais criadas por um poeta inglês”.

“Os pré-rafaelitas guardaram conhecimento mais íntimo de Blake como se fosse segredo de uma seita. Só os simbolistas abriram a porta do tesouro; e então se manifestou, enfim, um dos poetas mais celestes e mais demoníacos de todos os tempos. ‘Manifestou-se’ é maneira de dizer; porque conhecer a vida de Blake, poeta, místico, revolucionário e louco, e estudar as múltiplas influências de Boehme e Swendenborg, dos gnósticos e de Rousseau na sua obra, ainda não basta para encontrar caminho certo na floresta desse Universo poético. É um Universo particular, e por ser criação de um doido, não deixa de ser completo”.

“Se Blake foi um louco, então foi o louco mais lúcido de…

Há metafísica bastante em não pensar em nada (Alberto Caeiro)

V

Há metafísica bastante em não pensar em nada.

O que penso eu do Mundo?
Sei lá o que penso do Mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.

Que ideia tenho eu das coisas?
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do Mundo?
Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).

O mistério das coisas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o Sol
E a pensar muitas coisas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o Sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do Sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do Sol não sabe o que faz
E por…

A História do Declínio e Queda do Império Romano (Edward Gibbon)

“O estilo solene, algo barroco, de Gibbon não deve iludir a crítica: a ‘History of the Decline and Fall of the Roman Empire’ não é um grande panorama retórico da história universal, e sim uma obra de erudição séria. Onde Gibbon errou, não o fez por leviandade ou por espírito sectário, mas porque a ciência de sua época não lhe podia oferecer a documentação suficiente. Entre as obras existentes da historiografia é a sua a mais antiga das que ainda se podem consultar com proveito; é grande literatura, mas não é apenas literatura. O valor literário reside no estilo solene e no entanto deliciosamente irônico, no poder admirável de composição e construção, na coerência lógica dos inúmeros fatos relatados: decadência dos romanos, ascensão do cristianismo, queda do Império pela aliança entre a Igreja e os bárbaros, a longa noite dos dark ages sobre a Europa ocidental, a sobrevivência precária…

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