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Os três ou quatro “pensadores” brasileiros

Penso o seguinte em relação aos três pensadores brasileiros “de massa” do momento:

i) Cortella: nunca consegui acompanhar um raciocínio completo dele. Não ouvi e não gostei.

ii) Karnal: já gostei de ouvi-lo, mas aos poucos vi que ele não tem honestidade intelectual (seus comentários toscos e rasos sobre o Escola sem Partido e o “nunca li um livro de Olavo de Carvalho” sepultaram o pequeno interesse que eu tinha por acompanhá-lo); além disso, e talvez por isso, o tom de sua fala começou a me cansar;

iii) Clóvis de Barros: me parece, dos três, o mais preparado para a função de “professor de filosofia de colégio”; não se leva muito a sério e parece ter a consciência de que sua função pública é “animar” turmas que por princípio não se interessam por filosofia; há indícios de que sabe alguma coisa (ainda que seja alguma coisa de almanaque) sobre alguns poucos filósofos e tem o dom teatral de transmitir o (pouco, parece) que sabe. Se ele não se leva muito a sério, não serei eu a fazê-lo. Costumo dar umas risadas com suas performances, mas nada mais que isso.

P.S.:  E o Pondé? Gosto dele, em termos. Ele diz coisas necessárias (mas só é “tolerado pela gerência porque é inofensivo”, como diria Fernando Pessoa; o que já não acontece com o prof. Olavo de Carvalho). Diz coisas necessárias, apesar de dizê-las numa moldura niilista (só por isso o suportam, claro). Mas não gosto de modo algum de seus textos, que parecem ditados de viva voz a um estagiário, que depois de digitá-los, também me parece, os manda direto para o jornal. Ele não parece ter absorvido bem a literatura e a poesia universais (do contrário não escreveria daquele jeito). Além disso, fico um pouco entristecido ouvindo pessoas como ele, que não têm nenhuma “esperança na humanidade”. É razoável “acreditar” no homem (pelo menos em alguns de nós).

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O título do livro de Gregory Wolfe, lançado há pouco no Brasil, é uma frase de Dostoiévski: a beleza salvará o mundo. A ideia é, a princípio, um pouco estranha. Em primeiro lugar, o mundo não está aí para ser salvo. Ele tem o seu príncipe e com ele já está julgado (Jo 16:11). Em segundo, se há algo a ser salvo é a alma dos homens; e essa será salva se Deus assim quiser. Apesar de tudo isso, a frase, se bem interpretada, pode nos ensinar algo a respeito da realidade.

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