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O eu e a circunstância

Nas Meditaciones del Quixote (1914), José Ortega y Gasset desenvolve as sementes de sua metafísica segundo a razão vital, iniciada em Adán en el paraíso (1910). “Eu sou eu e minha circunstância” é sua famosa concepção da realidade radical, fruto da crítica ao idealismo com que começou sua filosofia sem contudo refugiar-se no realismo gnosiológico. A realidade circundante “forma a outra metade da minha pessoa”.

Não só por isso, mas também por isso, eu concluo que a revolta contra a realidade, contra as circunstâncias de sua vida, é uma revolta contra si mesmo.
Meditar sobre as circunstâncias e trabalhar para modificá-las é um modo muito interessante de criar-se a si mesmo a cada momento. Revoltar-se contra elas é algo bem diferente; é enlouquecer-se, é alienar-se, é renunciar a ser o co-criador da sua biografia.

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A verdade é relativa?

Hoje em dia todo mundo acaba dando sua opinião sobre tudo. Como a maioria acredita que todos somos iguais e que ninguém é melhor que ninguém, a variada sorte de opiniões acaba convencendo a muitos de que não existe propriamente uma verdade, mas várias. Já não acreditamos na beleza – porque, segundo dizem, a beleza está nos olhos de quem vê; e já não acreditamos que há pessoas melhores que outras – porque justificamos a maldade dos maus na ineficiência do governo, na corrupção, na pobreza (e nunca na falta de caráter ou nas decisões infelizes que seus antepassados tomaram e eles não souberam senão ratificar).

Mas voltemos à verdade. Muitos falam em “sua verdade” e em “minha verdade”. O que pensar disso? Dizer que existem várias verdades é, evidentemente, um mau uso da linguagem. Em vez de buscar um grau de certeza razoável a respeito das questões, as pessoas preferem…

Um pouco de filosofia política

Em uma aula de Filosofia Política, o prof. Olavo de Carvalho trabalhou a tese de que o fundamento de nossa obediência à autoridade estatal é o fascínio que tivemos na infância pelo rosto de nossa mãe-protetora. Isso faz algum sentido. Então, se é assim, como estamos lidando com essa questão atualmente? Vocês se lembram de que em junho de 2013 boa parte dos brasileiros foi às ruas protestar por um país melhor. Como as passeatas se espalharam pelos quatro cantos, ficou em nós a sensação de que, finalmente, o “gigante acordou”. Ora, isso quer dizer que até então dormia em berço esplêndido. Pode ser que sim. Mas o gigante até então adormecido não é só o povo, porque um país também se faz de governantes – uma classe de políticos que nasceu e foi educada no seio da população. Eles não são ETs e nem foram nomeados pela metrópole. É…

Estamos indo sempre para casa (Raduan Nassar)

“Desde minha fuga, era calando minha revolta (tinha contundência o meu silêncio! tinha textura a minha raiva!) que eu, a cada passo, me distanciava lá da fazenda, e se acaso distraído eu perguntasse ‘para onde estamos indo?’ — não importava que eu, erguendo os olhos, alcançasse paisagens muito novas, quem sabe menos ásperas, não importava que eu, caminhando, me conduzisse para regiões cada vez mais afastadas, pois haveria de ouvir claramente de meus anseios um juízo rígido, era um cascalho, um osso rigoroso, desprovido de qualquer dúvida: ‘estamos indo sempre para casa’.”

(Raduan Nassar, em Lavoura Arcaica)

O que são as Travessias?

Na prática, somos um portal de cursos e textos a respeito de filosofia, literatura e vida de estudos independentes.

Mas, na realidade, somos mais que isso: as Travessias pretendem fincar, no horizonte de visibilidade dos estudantes independentes, placas de sinalização para auxiliá-los a tomar seus próprios caminhos.

O nome é, a um só tempo, um convite para a viagem e uma previsão de maus-tempos. Pois se navegar é preciso, viver não é preciso. E é da imprecisão da vida que vem a incerteza das travessias.

Uma vida de estudos relativamente independente, se for mesmo viva e dinâmica, não pode ser precisa.

Por mais que os tracemos com boa visão e cuidado, nossos planos podem ser parcialmente retificados a cada estação; porque, embora o objetivo inicial possa permanecer o mesmo ao longo da travessia, o ponto de chegada depende de fatores que só o caminhar…

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