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O que são as Travessias?

Na prática, somos um portal de cursos e textos a respeito de filosofia, literatura e vida de estudos independentes.

Mas, na realidade, somos mais que isso: as Travessias pretendem fincar, no horizonte de visibilidade dos estudantes independentes, placas de sinalização para auxiliá-los a tomar seus próprios caminhos.

O nome é, a um só tempo, um convite para a viagem e uma previsão de maus-tempos. Pois se navegar é preciso, viver não é preciso. E é da imprecisão da vida que vem a incerteza das travessias.

Uma vida de estudos relativamente independente, se for mesmo viva e dinâmica, não pode ser precisa.

Por mais que os tracemos com boa visão e cuidado, nossos planos podem ser parcialmente retificados a cada estação; porque, embora o objetivo inicial possa permanecer o mesmo ao longo da travessia, o ponto de chegada depende de fatores que só o caminhar nos vai mostrando. Disso já sabia Riobaldo Tatarana, que registrou seu testemunho na sua longa passagem pelo sertão:

“Eu atravesso as coisas – e no meio da travessia não vejo! – só estava era entretido na ideia dos lugares de saída e de chegada. Assaz o senhor sabe: a gente quer passar um rio a nado, e passa; mas vai dar na outra banda é num ponto mais embaixo, bem diverso do que em primeiro se pensou (…) o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia…”

A metáfora da travessia do rio, cunhada por Guimarães Rosa, evoca as filosofias aparentemente conflitantes de Heráclito e de Parmênides.

Ambos, aqui, têm as suas razões.

Se a gente vai dar na outra banda num ponto bem diverso do que em primeiro se pensou, Parmênides diria:

→ De qualquer forma, você vai dar na outra banda, e não numa terceira (ora, a chegada na mesma margem inicialmente planejada é sinal da estabilidade do ser).

Heráclito, por sua vez, diria:

→ Não pisamos duas vezes na mesma banda; a nossa sina é alcançar sempre uma terceira margem do rio – sempre terceira e sempre nova (a correnteza, nessa perspectiva, é o princípio de todas as coisas).

Não precisamos resolver semelhante questão agora – certos de que, se se trata de uma imagem adequada da realidade, então ela não está aí para ser solucionada, mas para ser aceita em suas aparentes contradições.

Por isso, deixemos de lado Heráclito e Parmênides, duas referências fixadas no solo grego (perdoem-me, por isso, os heraclitianos); e voltemos nossos olhares para os homens em retirada: Moisés, Ulisses, São Tiago, Dante, Colombo, Dom Quixote, Riobaldo, Fabiano), representantes dos caminhos ideais de ida, retorno, exploração ou missão que nos servem de inspiração no transcurso de nossa própria viagem de descoberta e no cumprimento, enfim, de nosso programa de estudos independentes.

Muito bem. Mas por onde devo seguir?

Veja. A trajetória de um estudante é o resultado da confluência de sua própria personalidade com as indicações que ele recebe da tradição. A fórmula dessa confluência é personalíssima; e abre a cada pessoa que se lança à vida de estudos um determinado número de itinerários possíveis — que ela deve palmilhar, com ânimo e serenidade, como quem busca a solução para um problema da maior importância.

O sucesso dessa travessia depende do conhecimento que se tem (e do manejo que se faz) de seus genuínos anseios, de suas disposições pessoais e de sua força de vontade; mas também do nível e da qualidade do acesso que se tem ao depósito da tradição, representada (imediatamente) por seus mestres e (através de mediações) pelos autores que, ao longo da história, estabeleceram determinadas indicações nos pontos de menor visibilidade.

Para o mais perfeito cruzamento desses dois fatores é preciso conhecê-los com alguma profundidade.

O conhecimento de si, longe de ser mero instrumento de técnicas de auto-ajuda, é a base para o florescimento dos indivíduos e, por consequência, da sociedade que eles compõem. O acesso à tradição literária ocidental, por outro lado, serve de alimento para a inteligência e de guia no caminho do florescimento.

Por ser uma via privilegiada para o conhecimento tanto de si como da tradição, a literatura imaginativa é o princípio de toda vida de estudos. A absorção de algumas boas dezenas de obras clássicas da literatura imaginativa universal é a maneira mais eficaz de povoar o nosso imaginário e, com isso, tornar mais rica a experiência que temos da realidade.

Estando o imaginário minimamente enriquecido através das narrativas mais significativas da literatura ocidental, será o momento de seguir viagem – ainda que à guisa de explorações de circunstância – pelas disciplinas que lhe despertam maior interesse: história, filosofia, pedagogia, direito, crítica literária, sociologia, psicologia, medicina, física etc.

Paralelamente a isso, mesmo que o seu interesse não seja propriamente a filosofia, certamente será prudente conhecer pelo menos as principais discussões que animaram a atividade de Sócrates, Platão e Aristóteles entre os séculos V e IV a.C. e as soluções que buscaram oferecer a elas.

Se você está iniciando a sua travessia, é possível que possamos ajudá-lo(a):

→ Na escolha e no acompanhamento de leitura das obras clássicas da literatura imaginativa;

→ Na superação das variadas dificuldades iniciais de uma vida de estudos; e

→ No conhecimento e na meditação das principais questões trabalhadas principalmente pela Filosofia Grega.

Caso o seu itinerário pessoal preveja a passagem por alguma(s) dessas vias, aproveite nossos textos e se matricule em nossos cursos!

Bons estudos!

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Responses

  1. Que massa!
    Assisti um vídeo do grande filósofo Olavo de Carvalho, e nesse vídeo o mestre falava de alguns filósofos. Em busca, cheguei até essa página que a primeira leitura falava sobre o Olava. Rs