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Como Ler Livros (Mortimer J. Adler e Charles van Doren)

O Como Ler Livros, de Mortimer J. Adler e Charles van Doren (É Realizações), não é apenas um manual prático ou um guia de leitura (pois sua intenção não é apenas ensinar ao estudante a ler). Muito além disso, a obra é um programa integral de estudos que contém, inclusive, a seleção dos Grandes Livros da Civilização Ocidental (os famosos Great Books), selecionados e indicados pelo próprio autor.

O que pretende esse programa de estudos? Seu objetivo é inserir o leitor-estudante naquilo que o Mortimer Adler chama de Grande Conversação — que é uma reunião, uma congregação, imaginária (porém, de certa maneira, muito real), dos grandes pensadores da Civilização Ocidental. Então, o Adler colocou neste panteão de pensadores Platão, Aristóteles, Dante, Shakespeare, Miguel de Cervantes, Descartes, Leibniz, Kant, Freud, enfim, os grandes autores que, então, conversam entre si nesta hipotética mas realíssima conversação.

A intenção do autor é que o leitor alcance o conteúdo e a forma dessa grande conversação; é que o leitor não apenas se coloque perante essa congregação e, aos poucos, passe, primeiro, a usufruir de seus benefícios, a usufruir de seus conhecimentos, de suas intuições, enfim, de toda essa troca de experiências intelectuais entre os sábios; e, mais adiante, que alguns desses leitores, tendo participado com proveito dessa grande conversação, possa então contribuir com a sua possível e pequena parcela para o desenvolvimento da arte (das descobertas científicas, das discussões filosóficas  ou da expressão literária).

E qual é o método que o Adler utiliza para inserir o leitor nessa grande conversação? Basicamente, a leitura atenta e graduada. O autor sugere quatro níveis de leitura: a leitura elementar, inspecional, analítica e, por fim, no último nível, o mais elaborado e exigente, a leitura sintópica. A sugestão leva o leitor a comer pelas beiradas, a ir aos poucos compreendendo e assimilando a forma de raciocínio e os modos de vida que os grandes autores apresentam em suas obras. Com a prática das leituras analítica e sintópica, o leitor começa a entender as discussões e, com o tempo, a tomar parte nelas.

Como Ler Livros é, então, o livro texto de um programa de estudos da educação liberal, que Mortimer Adler começou a conduzir na década de 40 do século passado. A edição que nós temos do Brasil é a da É Realizações, traduzida a partir da segunda edição americana, reformulada pelo autor e lançada em 1972.

Esse programa de estudos pressupõem que você tenha acesso à lista de livros que o Adler selecionou e que ele próprio chegou a editar numa coleção de livros chamada, como já disse, de Great Books Of Western Civilization, de que nós, aqui no Brasil, só temos a edição em inglês (você pode encontrá-la em sebos ou mesmo no site da Amazon). Mas, evidentemente, é possível comprar os livros à parte, à medida em que você for avançando na leitura. A maioria dos livros (mas não todos) possui tradução para a língua portuguesa. Essa seleção que o Adler fez se baseou num critério que ele mesmo descobriu: os livros capazes de verdadeiramente nos ensinar algo são raros (ele diz que os livros importantes talvez sejam um em 10.000). São os livros que realmente nos ensinam a ler, a pensar e a ver o mundo de um modo mais adequado. Todos os demais livros, então, ele diz, merecem nada mais que uma folheada.

E não é à-toa que o prof. José Monir Nasser colocou o Como Ler Livros como o primeiro da lista das Expedições Pelo Mundo da Cultura. Se você notar bem vai perceber que as aulas do prof. Monir não levam em conta exatamente o método do Adler. O prof. Monir conduzia suas aulas com muita leveza, embora com muita profundidade. Então, você tem a impressão de que ele não é um discípulo fiel de morte me Adler — pelo menos não o é no seu método de exposição. Seja como for, a leitura do livro do Adler, mesmo que você não se torne um seu discípulo, irá ajudá-lo a ter mais presença e consciência durante as leituras que fizer; dará a você um método de compreensão (não só de compreensão, mas também de assimilação daquilo que você está lendo), de modo que possa, então, começar a participar com proveito da grande conversação. O estudante não se contenta em conversar com os amigos, e o professor não se deve contentar em ensinar a seus alunos, mas ambos podem e devem participar, ainda que imaginativamente, da grande conversação, em variados graus assimilação e de cooperação, com os grandes autores da Civilização Ocidental.

Palestra de lançamento da edição brasileira do livro, proferida pelo prof. José Monir Nasser na sede da É Realizações:

Vídeo de apresentação do canal As Travessias:

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3) Analíticos Posteriores, Tópicos e Refutações Sofísticas
4) Metafísica
5) Metafísica
6) De Anima e Geração e Corrupção
7) Física
8) Ética a Nicômaco
9) Ética a Nicômaco
10) Política

A modificação foi a seguinte: a obra Da Interpretação, que seria estudada em abril, foi adiantada para fevereiro. Os Tópicos, previstos para março, passaram para abril. Analíticos Primeiros, prevista para abril, veio para março. Poética passou de fevereiro para março. Tudo isso visa a acomodar o estudo das obras naquilo que, segundo parte dos comentadores, seria uma ordem ideal de aprendizado.

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Que livros compõem a nossa lista?

Vejamos. Dos cem livros, 78 são de ficção. Dos 78, 43 são de prosa ficcional (romances, novelas etc); 24 são de teatro, dos quais oito são de Shakespeare; e onze são de poesia (poesia épica e poesia lírica).

Dos 22 livros de não-ficção, 17 são ensaios ou livros filosóficos (dos quais cinco são de Platão). Os outros cinco são textos de caráter religioso (dois textos sagrados, dois de Santo Agostinho e um de Chesterton).

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Em cada encontro, falaremos sobre a vida do autor e o contexto de…

Responses

  1. Comprei essa lindeza de livro e vi que vai ter anotações mil nele, muito interessante e pertinente aos dias de hoje, com tantos analfabetos funcionais.