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Uma Nova História da Música (Carpeaux): Renascença e Reforma

Esta postagem traz parte da seleção de obras musicais incluídas por Otto Maria Carpeaux no Apêndice B de seu livro Uma Nova História da Música (2ª Edição, revista e aumentada, Livraria José Olympio Editora). Acesse o arquivo inaugural aqui.

RENASCENÇA E REFORMA

Philippe de Monte (1521-1603)

Sua obra imensa é hoje um dos objetos preferidos dos estudiosos da musicologia, mas sem ter saído desse círculo estreito.

Missa Inclina cor meum

Orlandus Lassus (1530-1594)

Seu universalismo lembra os grandes gênios da Renascença.

Sabe dirigir as massas sonoras como se fosse um Handel da época do canto a capela.

O espírito e a técnica da música contrapontística flamenga são inconfundíveis em grande parte dos seus inúmeros motetes.

Pela intensidade do seu sentimento profano e pela angústia religiosa, é o mais “moderno” entre os mestres “antigos”. Sua síntese de construção rigorosamente arquitetônica e de abundante lirismo já fez pensar na síntese de elementos equivalentes em Brahms. Mas (…) a arquitetura polifônica de Lassus não tem nada que ver com a polifonia instrumental de um pós-beethoviano; e seu lirismo reflete o estado de espírito de uma sociedade da qual só subsistem recordações livrescas.

Psalmi poenitentiales (1560). Sua obra capital, talvez a maior do século; trata-se dos salmos n. 6, 31, 37, 50, 101, 129 e 142 (conforme a numeração da Vulgata), de profunda contrição e energia sombria; sobretudo o Salmo 50 [Miserere], e o Salmo 129 [De Profundis]. É a música mais emocionada, mais dramática de toda a época do canto a capela, não acompanhado.

* Gustate et videte (1584). O mais famoso de seus motetes, do qual conta a lenda: foi escrito em Munique, para a procissão que pediu chuvas depois de longo período de seca; e comoveu de tal maneira o céu que a chuva logo começou a cair.

Salve Regina (4 vozes)

Pater noster em fá maior

Timor et tremor. Ainda continua sendo cantado no Domingo de Páscoa nas igrejas de Munique e Viena)

Magnificats

Justorum animae

Canções eróticas com letra francesa (Quand mon Mari, Margot, J’ai cherché), humorísticas (Le Marché d’Arras) e coros latinos para as tertúlias alegres de estudantes (Fertur in convivio).

Madrigais latinos (Amor mi strugge e Matona mia cara).

Latinista erudito, colocou em música textos de Virgílio (Tityre) e de Horácio (Beatus ille).

Magnus opus musicum. Nada menos que 516 motetes para todas as festas e comemorações do ano litúrgico, de uma variedade infinita de técnicas, inspirações e emoções: o extático Justorum animae, descrevendo a ascensão da alma dos justos para o céu, e o amargo Tristis es, anima mea, de pessimismo brahmasiano, o retumbante Creator omnium e o solene Resonet in laudibus).

Hola, Charon (1571). Coro profano, em que Lassus invoca a morte com o espírito pagão de um homem da Renascença.

Sacrae Lectiones ex Job (1565) e Lamentationes Hieramiae (1585). Nessas duas peças já o inspiram textos pessimistas da Vulgata do Velho Testamento.

Lagrimae do San Pietro (1594). Já se sente algo de espírito barroco, talvez devido ao texto, do poeta italiano Luigi Tansillo.

Luca Marenzio (1550-1599)

Chamado de ‘il pìu dolce cigno’, sua arte é estupendamente expressiva; não evita cromatismos, modulações audaciosas, dissonâncias para interpretar textos como: Gìa torna, O voi che sospirate, Scaldava il sol, Cantiam la bella Clori, In un boschetto, Se il raggio del sol, Scendi dal paradiso.

Às vezes lembra a arte de Hugo Wolf. É a música com que se divertiam, nas pausas da conversação sobre filosofia platônica, literatura latina e educação dos nobres, as princesas, literatos e prelados reunidos na côrte de Urbino: das conversas que vivem para sempre na obra literária mais nobre da Renascença italiana, no Cortegiano de Baldassare Castiglione.

William Byrd (1543-1623)

Gênio da música elisabetiana.
Foi um daqueles gênios universais da Renascença, dominando todos os gêneros.

Missa para cinco vozes (1588). Obra meio clandestina [ele desempenhava o cargo de maestro da capela da rainha protestante], por causa da qual a posteridade lhe concedeu o título de “Palestrina inglês”: obra realmente de grande valor, mas menos palestriniana do que “gótica”, flamenga.

Psalms, Sonnets and Songs of Sadness and Piety. De estupenda amplitude emocional.

Madrigais (Lullaby, This Sweet and Merry Month, Though Amaryllis Dances), que lembram o ambiente erótico e alegre das comédias da primeira fase de Shakespeare.

Carman’s Whistle, Sellenger’s Round, The Bells, Pavane Earl of Salisbury. Em que o compositor revela estranha modernidade, deixando de lado a polifonia pedante para escrever variações espirituosas sobre danças aristocráticas e populares; são, até hoje, música viva.

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As mais importantes peças de música de todos os tempos

Aqui está a seleção de obras musicais de que Otto Maria Carpeaux constituiu o Apêndice B de seu livro (controverso e, para meu gosto, imprescindível) Uma Nova História da Música (2ª Edição, revista e aumentada, Livraria José Olympio Editora).

Pretendo adicionar, com o tempo, os comentários que o próprio autor dedicou a cada uma das obras e, sempre que possível, links para vídeos que contenham boas execuções.

Segundo Carpeaux, nessa lista “só foi incluída uma seleção das grandes obras permanentes, além de um reduzido número de outras obras, de grande importância histórica. Mas infelizmente, só pouquíssimas obras dos primeiros séculos foi possível incluir, porque não são verificáveis todas as datas do século XVI e muito menos as dos séculos XIV e XV”.

Como a lista do Carpeaux não é exaustiva, incluirei também outras peças que ele próprio mencionou ao longo do texto. Dois registros são importantes: i) as peças ‘canônicas’, ou seja,…

Uma Nova História da Música (Carpeaux): A Contra-Reforma: Palestrina; O Maneirismo

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A CONTRA-REFORMA: PALESTRINA

Cristóban Morales (1512-1553)

Primeiro mestre do estilo da “Contrarreforma”, em que a música é rigorosamente desacompanhada, a capela. Só a voz da criatura humana é digna de louvar o Criador.
Precursor de Palestrina.

Lamentabatur Jacob (moteto)

Emendemns in Melins (moteto)

Giovanni Pierluigi da Palestrina (1525-1594)

É o mais “clássico” dos compositores; naturalmente não no sentido da música clássica vienense de Haydn, Mozart e Beethoven, mas no sentido de equilíbrio perfeito, latino. É “clássico” dentro de um estilo há séculos extinto e já por ninguém cultivado.

Palestrina não é um grande compositor que escreve música sacra; é um liturgista que sabe fazer grande música.

Seu objetivo foi tornar o texto sacro, na boca dos cantores, compreensível, sem renunciar…

Uma Nova História da Música (Carpeaux): O Outono da Idade Média

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O OUTONO DA IDADE MÉDIA

John Dunstable (1370-1453)

Atribui-se a ele maior liberdade de invenção melódica que aos mestres da Ars Nova.
Em seu tempo passava por compositor de grande categoria e mestre dos mestres ‘flamengos’.

Quam pulchra es

Guillaume Dufay (1400-1474)

Sua música é ‘mais rica’ só em comparação com seus predecessores; mas dá impressão de estranho, às vezes de bizarro. O mestre já domina as regras todas; ainda não sabe aproveitá-las para comunicar-nos sua emoção religiosa; ou então, nós outros já não sabemos apreciar-lhe os modos de expressão.

Missa Se la face. Pode-se imaginar ser a música que os anjos cantam na parte superior do altar dos Van Eyck, na Catedral de St. Bavo em Gent.

Johannes…

Uma Nova História da Música (Carpeaux): As Origens da Ópera e do Baixo-Contínuo; O Barroco: Monteverdi e a Ópera Veneziana

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AS ORIGENS DA ÓPERA E DO BAIXO-CONTÍNUO

Jacopo Peri (1561-1633)
Sua música, e também a de Caccini, é o canto “homófono” (“monódico”). É a vitória do indivíduo sobre o coro; é o individualismo na música.
O novo gênero institui a soberania do cantor: é ele, o indivíduo, que está no centro, em vez do coro. Parece-se com o monarca absoluto, esse outro personagem centro do Barroco, podendo dizer: “La musique c’est moi”.

* Dafne (1597). Música feita sobre o libreto de Ottavio Rinuccini.

Giulio Caccini (1550-1618)

* Euridice (1600). Música feita sobre o libreto de Ottavio Rinuccini.

O BARROCO: MONTEVERDI E A ÓPERA VENEZIANA

Claudio Monteverdi (1567-1643)

Maestro de música na corte de Mântua; depois, regente do coro…

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