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Retrato do Artista Quando Jovem (James Joyce)

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”A sua alma levantara-se da tumba da puerícia, despojando-se das vestes sepulcrais. Sim! Sim! Sim! Ele iria criar magnificentemente, com a liberdade e a força da sua alma, como o grande artífice cujo nome usava, uma coisa viva, nova, alada e bela, impalpável, imperecível!”
”Stephen Dedalus, com dezessete anos, mais ou menos, sabe que não tem vocação para ser padre, que não suporta a própria família, que não suporta a sua situação de culpa por pecados sexuais, e sabe que tem apenas uma única saída: voar e cair no mar, como Ícaro, filho do artífice Dedalus. Cair no mar significa cair numa substância sem forma, reformatando a sua existência e tornando-se um novo Stephen Dedalus.
O vôo que Stephen Dedalus deseja fazer não é somente de natureza física, mas de ordem simbólica e artística. Stephen Dedalus substitui o misticismo religioso por uma espécie de misticismo artístico, decidindo-se, então, por tornar-se um artista da palavra, um escritor. Ele descobre, assim, o ponto para o qual ele deseja voar.
Quando Stephen Dedalus percebe a relação que há entre a solidão e a contemplação da beleza, ele percebe que o desejo sexual pela beleza feminina, ou pela beleza em si própria, não mais implica numa conotação decadente ou devassa. Ele realiza uma equiparação entre os seus impulsos sexuais e seus impulsos artísticos. Ele soluciona pela via artística as suas tensões que seriam insolúveis na via sacerdotal. Eu garanto para vocês que esse é o caminho pelo qual todo artista verdadeiro passa. Todo artista genuíno passa pela experiência de sublimar de algum modo as suas tensões sexuais transferindo-as para o âmbito criativo-artístico, da forma harmoniosa, da estética. Essa foi não somente a experiência do próprio James Joyce, mas de todo aquele que possui a vocação artística”.

(José Monir Nasser — Comentários ao ‘Retrato do artista quando jovem’, de James Joyce”) — Compilação feita por David Bezerra no Facebook.

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