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Para ler histórias da filosofia

Eu tenho me dedicado, nos últimos oito anos, a tirar o atraso e a suprir as evidentes lacunas da minha formação escolar e universitária. Alguma parte desse tempo foi gasta no estudo da Filosofia Antiga. Raramente eu ultrapassei, nas leituras genéricas de história da filosofia, os filósofos pós-aristotélicos (Epicuro, os cínicos, os estóicos, os ecléticos e os neoplatônicos). Propus-me, neste segundo semestre, a buscar uma visão geral de toda a filosofia através da leitura de duas obras de referência: A História da Filosofia de Giovanni Reale e Dario Antiseri, em três volumes, com consultas pontuais à História da Filosofia de Guillermo Fraile e Teófilo Urdanóz, em oito tomos.

Não foi uma má ideia. Porém, agora que já estou quase na metade do caminho, vejo que por mais que os primeiros autores acabem abordando, lateralmente, o contexto histórico geral de cada um dos filósofos e das escolas filosóficas, falta-me, como um tempero no prato que se quer saboroso, penetrar imaginativamente na substância dos acontecimentos históricos — dos quais a filosofia, em alguma medida (mas nem tanto quanto querem os marxistas), tira seus motivos. O estudo da história da filosofia parece exigir a posse prévia de uma boa dose de cultura geral (aí se incluem a literatura, a história das civilizações e, last but not least, uma certa experiência de vida). Sem isso, o estudo da história da filosofia corre o risco de se tornar vão e, em casos mais dramáticos, contraproducente.

Portanto, se você quer se aventurar na leitura da história da filosofia, certifique-se de que já possui suficiente cultura literária, não deixe de ter à mão bons livros de história das civilizações e faça, com a maior frequência possível, exames de consciência diários. Como já escrevi em outro lugar, o exame de consciência é uma excelente maneira de adquirir experiência de vida.

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Questões em torno dos filósofos milesianos

Da segunda aula do Curso de História da Filosofia ministrado pelo Prof. Eduardo Dipp no extinto Instituto Olavo de Carvalho extraí as seguintes questões relevantes, que, entre tantas outras, um estudioso da Filosofia Antiga deve ser minimamente capaz de articular.

– Houve transmissão de ensinamentos dos egípcios ou dos babilônicos aos primeiros filósofos gregos? Quais? De que maneira?
– Como o então crescente desprestígio da religião grega influenciou o surgimento da Filosofia?
– Como os séculos de ‘calmaria internacional’ e a organização política grega influenciaram o surgimento da Filosofia?
– Como a sabedoria era preservada socialmente antes dos primeiros filósofos? Como passou a sê-lo depois?
– Os pré-socráticos são proto-filósofos? Que conclusões resultam dessa concepção?
– Como Homero e Hesíodo influenciaram os filósofos gregos?
– Como o teatro grego influenciou os primeiros filósofos?
– Como se mesclam na filosofia de Anaximandro a cosmologia e a ética? Como a questão dos limites e a hybris se relacionam aí?
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Aos iniciantes no estudo da filosofia platônica

Iniciar o estudo da Filosofia Grega é uma aventura que nos recompensa com abundantes frutos. E ninguém se lance a essa empreitada sem ter uma boa experiência literária — antes, pelo menos, de ter lido e absorvido uma centena das melhores obras da literatura imaginativa universal. A sugestão, que tenho seguido, não é minha mas do Prof. Olavo de Carvalho. Os fundamentos da necessidade de enriquecer o imaginário antes de começar a se debruçar sobre obras filosóficas você os encontra na obra do professor (principalmente nas aulas do Curso Online de Filosofia, ainda em andamento).

Superado este ponto, sigamos. Suspeito que o melhor a fazer não seja começar pelo começo. Deixemos Tales de Mileto para um momento posterior. O melhor, parece-me, é começar por Sócrates, que é considerado o ‘pai da Filosofia’ apesar de não ter deixado obra escrita. Depois de compreender relativamente bem o que é o projeto socrático,…

Itinerários

A trajetória de um estudante é o resultado da confluência de sua própria personalidade com as indicações que ele recebe da tradição. A fórmula dessa confluência é personalíssima; e abre a cada pessoa que se lança à vida de estudos um determinado número de itinerários possíveis — que ela deve palmilhar, com ânimo e serenidade, como quem busca a solução para um problema da maior importância.

O sucesso dessa travessia depende do conhecimento que se tem (e do manejo que se faz) de seus genuínos anseios, de suas disposições pessoais e de sua força de vontade; mas também do nível e da qualidade do acesso que se tem ao depósito da tradição, representada (imediatamente) por seus mestres e (através de mediações) pelos autores que, ao longo da história, estabeleceram determinadas indicações nos pontos de menor visibilidade.

Para o mais perfeito cruzamento desses dois fatores é preciso conhecê-los com alguma profundidade.

O conhecimento de si,…

Estudando Aristóteles: Categorias e Da Interpretação

Como disse no último post, começarei o estudo da filosofia de Aristóteles pelas obras a respeito da linguagem – o que se convencionou chamar Organon.

Desde a última vez que nos falamos, já houve uma modificação no planejamento inicial, que atualmente é o seguinte — os números se referem aos meses, de fevereiro a novembro:

1) Categorias e Da Interpretação
2) Poética, Retórica e Analíticos Anteriores
3) Analíticos Posteriores, Tópicos e Refutações Sofísticas
4) Metafísica
5) Metafísica
6) De Anima e Geração e Corrupção
7) Física
8) Ética a Nicômaco
9) Ética a Nicômaco
10) Política

A modificação foi a seguinte: a obra Da Interpretação, que seria estudada em abril, foi adiantada para fevereiro. Os Tópicos, previstos para março, passaram para abril. Analíticos Primeiros, prevista para abril, veio para março. Poética passou de fevereiro para março. Tudo isso visa a acomodar o estudo das obras naquilo que, segundo parte dos comentadores, seria uma ordem ideal de aprendizado.

Então, na primeira etapa deste…

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