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O combate à corrupção e a educação estética do homem

Em setembro deste ano de 2013 fui convidado pelo Prof. Dr. Rosângelo Rodrigues de Miranda a participar de um ciclo de debates na Faculdade de Direito do Vale do Rio Doce – FADIVALE. O tema do evento: a corrupção no Brasil contemporâneo. Aceitei o convite mais movido pelo gosto do esporte do que pela expectativa de conversão das almas dos ouvintes. É que há muito tempo o ambiente acadêmico me tem dado tanta aversão que se tivesse dez por cento da genialidade do Bruno Tolentino diria como ele que só entro em uma universidade disfarçado de cachorro. Como não sou um gênio à altura do nosso poeta e como (ainda) não tenho fantasia de cachorro; mas principalmente porque trabalho com processos de corrupção, entreguei-me quase maquinalmente à tarefa de falar, por pouco mais de meia hora, sobre a corrupção em nosso país. Não levei anotações e não pretendia detalhar à plateia o que o Ministério Público tem feito contra a corrupção. Ora, então que raios eu iria dizer? Se não é para contar o que o Ministério Público tem feito, se não é para dizer que os corruptos são um câncer, que são egoístas e mal-educados; se não é para falar em mudanças no sistema e no meu projeto para melhorá-lo, o que eu teria a dizer a estudantes que, em sua maioria, estavam ali para ganhar pontos de atividades extracurriculares?

Passados quase quatro meses do evento, não me lembro bem como comecei a palestra e nem como a terminei – provavelmente os alunos também não se lembram. Minhas palavras… Quem as ouviu não as amou. Ficaram esquecidas onde o mau vento as atirou. Porém algo do que eu disse de passagem e algo que se seguiu a isso merecem o devido registro.

1) Começo pelo fim. O que se seguiu à minha curta palestra, e que aqui registro apenas pelo que teve de peculiar, foi uma acalorada peroração feita pela secretária da coordenação do curso de Direito, que exortou os alunos – já que o assunto era ‘a corrupção no Brasil contemporâneo’ – a refletir sobre a conduta de cada um deles no dia a dia. Pois as pequenas infrações cotidianas são um sintoma da corrupção da alma estudantil. Os alunos que colam nas provas, os alunos que, não comparecendo às aulas, pedem a seus colegas que passem o cartão de presença em seus lugares etc são potenciais corruptos. Ela não falou em ‘potenciais corruptos’, mas deixou assim ficar subentendido…

2) Como um quarto intacto, suspenso no ar sobre os escombros daquela instituição de quase meio século, o que eu disse ficou e, por uma feliz e insuspeitada coincidência, encontrou ressonância na atividade pedagógica que é desenvolvida pelo prof. Rosângelo com seus alunos de Direito Constitucional. Parêntesis: leitor atento de Friedrich Schiller, o professor costuma levar para a sala de aula, por exemplo, no lugar de maçantes leituras doutrinais, As cinzas das horas de Manuel Bandeira (e por essa exata razão é alvo de reclamações feitas na diretoria, por alunos que gostariam que as aulas de Direito Constitucional fossem comentários às últimas provas da magistratura, do Ministério Público ou da Polícia Civil).

A ideia que eu tentei desenvolver naquela manhã foi essa: o problema da corrupção não será resolvido pelo Direito. Algum de vocês duvida disso? Disse também que o combate à corrupção era uma atividade que consistia em enxugar gelo, em desentortar banana (poderia ter dito que combater a corrupção hoje em nosso país é como lançar versos escritos n´água, mas não tive presença de espírito suficiente); que combater a corrupção pelo Direito era, enfim, uma atividade necessária porém insuficiente. Por quê? Por exemplo, porque havíamos esquecido a importância da educação estética do homem: as músicas ouvidas pela maioria da população são feias; as ruas, as calçadas, as construções, os monumentos são feios; os programas de televisão são feios. Como esperar que a alma individual esteja afinada – e principalmente pronta a escolher o bem – se os estímulos que se lhe submetem, dia a dia, dentro de sua comunidade, são a encarnação da feiúra em todos os seus graus?

Em tempo: Sempre que falo em “educação estética do homem” eu lembro, por dever de ofício e para estimular a reflexão, que a Alemanha de Hitler é a mesma Alemanha de Schiller, de Beethoven, de Goethe e de Wagner.

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