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Lista das máximas e chavões mais comuns nas discussões atuais

Segundo a teoria dos quatro discursos do prof. Olavo de Carvalho (Aristóteles em nova perspectiva. Vide Editorial, 2013), o discurso humano progride em direção a níveis mais altos de credibilidade e se constitui, basicamente, de quatro tipos: poético, retórico, dialético e analítico (ou lógico). Os indivíduos – como as sociedades – tendem a percorrer, nessa ordem, essa ‘linha evolutiva’. Em cada momento de sua história, o indivíduo/sociedade enfatiza determinado tipo sem contudo deixar de fazer uso dos demais nas mais variadas circunstâncias.

Segundo as lições do professor, nós, no Brasil, mal-começamos a nos exercitar no discurso retórico, que é aquele que “[v]isa, essencialmente, a persuadir alguém a fazer ou a deixar de fazer alguma coisa”.

Já que o discurso retórico “parte das convicções atuais do público, sejam elas verdadeiras ou falsas, e procura levar a plateia a uma conclusão verossímil”, tirei parte do meu dia hoje para recolher – para posterior avaliação – algumas máximas e chavões comumente utilizados nas discussões correntes entre nós. São com frequência lançados em discussões sem o prévio exame meditativo – ou seja, sem que o emissor possa se responsabilizar efetivamente pelo que diz.

Quanto menor é o tempo gasto em refletir sobre a veracidade desses juízos maior é a capacidade que a pessoa imagina que eles têm para iniciar uma discussão com ‘larga margem de frente’ ou, o que é pior, para encerrá-la vitoriosa. Eis a lista dos que me parecem os mais comuns nos ambientes, reais ou virtuais, que frequento:

– A proibição do comércio regular de armas de fogo tende a acabar com a violência.

– A Igreja instituiu o celibato dos sacerdotes para acautelar-se contra a possível dissipação de seu patrimônio.

– O socialismo não deu certo na URSS, na China, no Leste Europeu e em Cuba porque os revolucionários traíram – ou não entenderam – a essência do pensamento de Karl Marx.

– O homem nasce bom; é a sociedade quem o corrompe.

– Durante a Inquisição a Igreja matou pessoas porque elas ‘pensavam diferente dela’.

– Com a exceção de Jesus Cristo, da Santíssima Virgem e de São Francisco de Assis todos os cristãos são hipócritas.

– Em matéria de profissão, você deve fazer o que você ‘gosta’.

– Bandido bom é bandido morto.

– A multiplicação dos pães não foi verdadeiramente um milagre, mas apenas um modo simbólico que Jesus Cristo encontrou para mostrar a importância da partilha.

– A pobreza gera a criminalidade.

– Ninguém é melhor do que ninguém.

– Todos os pastores protestantes estão interessados em enriquecer às custas dos fiéis.

– A descriminalização das drogas irá acabar com o poder financeiro dos traficantes.

– Um cristão não pode usar qualquer tipo de violência contra as pessoas.

– Todo protestante é enganado pelo pastor.

– A Idade Média foi a época das trevas.

– Todas as culturas são iguais.

– Os alunos do Olavo de Carvalho são manipulados por meia dúzia de chavões porque são pessoas evidentemente desprovidas de senso crítico.

– Universidade de qualidade para todos.

– Independentemente de arrependimento, Deus não leva em conta os nossos pecados, porque o Deus do Novo Testamento é um Deus de amor.

– O Brasil é um Estado laico; logo os cristãos não podem, como tal, dar opinião em questões que afetem toda a sociedade.

– Na relação pedagógica, quem mais aprende é o professor.

– As hordas que saqueiam caminhões tombados em estradas são geralmente pessoas que estão passando fome.

– A maconha é a porta de entrada para drogas mais pesadas.

– Em assunto de família, costumes e sociedade, a Igreja ainda precisa promover uma abertura de suas portas ao mundo moderno.

– O Olavo de Carvalho fala palavrão.

– Quem se opõe à descriminalização do aborto o faz necessariamente por motivos religiosos.

– A primeira coisa que devemos fazer para melhorar a qualidade do ensino no país é colocar mais dinheiro na educação.

– É um contrassenso proibir o comércio de entorpecentes se a venda de bebidas alcóolicas ainda é permitida.

– O criminoso é quase sempre uma vítima da sociedade.

– Jesus Cristo é um espírito de luz. Nos primeiros concílios a Igreja tramou para excluir da Bíblia qualquer prova de que Ele pregara a doutrina da reencarnação.

– O aborto é uma questão de saúde pública.

– As eleições são a festa da democracia.

– O Olavo de Carvalho é astrólogo.

– A Igreja matou milhões de pessoas na Inquisição.

– Os revolucionários de esquerda que lutaram contra o Regime Militar brasileiro de 1964 queriam instaurar uma democracia no Brasil.

– As consequências da Lei Seca nos Estados Unidos são a comprovação cabal de que o comércio de entorpecentes deve ser descriminalizado.

– O Vaticano deveria vender todos os seus bens e doar o dinheiro aos pobres.

– O Iluminismo foi a época das luzes.

– Os santos reconhecidos pela Igreja são pessoas como nós.

– O Brasil é o país do futuro.

– Uma das causas da violência e da pobreza no Brasil é o número exagerado de filhos gerados por indivíduos da classe E, que geralmente não utilizam métodos contraceptivos.

– Platão e Aristóteles estão ultrapassados.

– Quem não é socialista não tem coração.

– O Olavo de Carvalho é um representante da nova direita fascista (pronuncia-se ‘fachista’).

– A ‘proibição’ do uso de camisinha, pela Igreja, é responsável pelo aumento do número de infectados pelo vírus HIV no continente africano.

– As cotas raciais em universidades são uma forma de compensar injustiças passadas.

– Todos somos iguais.

– Os bichos têm direitos.

– No começo de sua história, a Igreja manipulou a Bíblia de modo que ela confirmasse as doutrinas elaboradas no interesse do Império Romano.

– O problema da fome no mundo é culpa do sistema capitalista.

– As bebidas alcóolicas são uma droga tão ou mais grave que a cocaína.

– Os estrangeiros admiram o Brasil e cada vez mais o respeitam como nação.

– As pessoas mais inteligentes são as pessoas que lêem mais.

– O que importa é ser feliz.

– Os bilionários geralmente são pessoas más porque estão preocupados apenas com o lucro.

– Desviar dinheiro público da saúde é mais grave que matar uma pessoa a tiros.

– Os órgãos de imprensa brasileiros são controlados pela direita.

– O Herbert de Souza, o Betinho, é o brasileiro mais notável dos últimos trinta anos.

– Antes da Revolução, Cuba era prejudicada pelo comércio de tipo colonial com os Estados Unidos.

– O embargo econômico instituído pelos Estados Unidos é o responsável pelo subdesenvolvimento de Cuba.

– Ninguém precisa frequentar igrejas, porque sempre se pode falar com Deus desde a sua própria casa.

– O Olavo de Carvalho é um pseudo-filósofo.

– Os padres, em sua maioria, são pedófilos.

– A história é sempre escrita pelos vencedores.

– Todo homem é filho do seu tempo.

– A prisão ressocializa o preso.

– Todo homem nasce livre.

– Se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi.

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Responses

  1. Maconha nao eh entrada para drogas mais pesadas? nao sei nao…pelo menos uma porta para o contacto inicial com o submundo do crime e traficantes ela eh nao ? E traficante soh negocia maconha ?

  2. Concordo com o seu texto e o comentário do Reinaldo, mas você poderia me explicar o porquê de ter posto este aqui na lista também ?

    – “A maconha é a porta de entrada para drogas mais pesadas”.

    Excluindo-se os fins terapêuticos, acredito sim que a maconha leve a outras drogas mais pesadas.

    Qual sua divergência com minha opinião ?

    Abraço.

  3. Oi, tudo bem?

    “A maconha é a porta de entrada para drogas mais pesadas.”

    Apesar de discordar da maior parte das frases, eu concordo com essa, sempre achei isso, até porque todos meus conhecidos que um dia usaram maconha também já usaram alguma outra coisa, seja LSD, cocaína ou lóló!
    Pode me fornecer informações que desmentem essa frase?

    OBS: Sou aluno do Olavo.

    1. João, minha ideia foi fazer uma lista de “chavões” e não de frases que espelhassem necessariamente alguma mentira ou distorção. Assim como “Olavo fala palavrão” a frase que você citou não é propriamente uma mentira, mas tenho a impressão de que está entre as que são ditas sem exame prévio.