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O poeta é um homem tomado pelo delírio

Musas

 

Platão, no Fedro, (245a):

(…) quem se apresenta às portas da poesia sem estar atacado do delírio das Musas, convencido de que apenas com o auxílio da técnica chegará a ser poeta de valor, revela-se, só por isso, de natureza espúria, vindo a eclipsar-se sua poesia, a do indivíduo equilibrado, pela do poeta tomado do delírio.

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O cadinho do poeta: transmutação das emoções morais em emoções estéticas

Manuel Bandeira, em Itinerário de Pasárgada:
Tomei consciência de que era um poeta menor; que me estaria para sempre fechado o mundo das grandes abstrações generosas; que não havia em mim aquela espécie de cadinho onde, pelo calor do sentimento, as emoções morais se transmudam em emoções estéticas: o metal precioso eu teria que sacá-lo a duras penas, ou melhor, a duras esperas, do pobre minério das minhas pequenas dores e ainda menores alegrias.

Mas ao mesmo tempo compreendi, ainda antes de conhecer a lição de Mallarmé, que em literatura a poesia está nas palavras, se faz com palavras e não com ideias e sentimentos, muito embora, bem entendido, seja pela força do sentimento ou pela tensão do espírito que acodem ao poeta as combinações de palavras onde há carga de poesia.

Linguagem carregada de significado

“A literatura é linguagem carregada de significado“. A frase é de Ezra Pound. Se é assim, como identificar o bom e o mau poeta? A chave está no significado das palavras eleitas pelo artista — o que exige um certo ritmo, uma boa versificação e tantas outras coisas que só um bom artesão das palavras sabe fazer (embora nem sempre saiba explicar). Se é assim, o mau poeta é aquele cara que chega em sua casa, no horário marcado para o jantar, com meio pacote de macarrão já vencido, uma sardinha destroçada e uma garrafa de vinho Canção já aberta e dormida; e meio preguiçoso e cheio de chavões que vai soltando sem muito critério prepara a comida que vocês então experimentam com um entusiasmo postiço de quem gostaria de estar gostando da experiência. Já o bom poeta chega em sua casa de surpresa (às vezes em um horário…

Russo amante de poesia esfaqueia colega que defendeu a prosa — e a minha contribuição

A notícia dos russos se atracando por conta da prosa, da poesia e de Kant ficou pairando sobre a minha cabeça hoje. Para esquecê-los fiz um soneto.

Como admirador da fina prosa
Não posso defender a poesia
O verso — essa coisa horrorosa!
Com a literatura não se alia

Mas como, seu herege ignorante!
Vá já com a sua prosa pros infernos!
Que tudo que a antiga musa cante
É digno de louvor e encanto eternos!

Entendo o seu lado, meu poeta
Mas poesia é má literatura
A tese que defende não tem jeito

’Tese’ é sua mãe, seu falso esteta!
Não posso suportar essa loucura!
E cravo — forte — a faca no seu peito…

De sua variada caixa de percepções

De sua variada caixa de percepções o poeta tira as palavras do poema. Suas percepções vêm da observação calma e silenciosa de seus próprios olhos, que refletem as imagens de um presente vivo e de seu próprio passado. Um passado tão longínquo como o ar que refrescou seus pulmões quando, ainda em sua infância, descobriu-se apaixonado. Poesia: frescor e paixão, dor e solidão.

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