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O amor tem vozes misteriosas… (Alphonsus de Guimaraens)

– O amor tem vozes misteriosas
No coração implume…
– Como são cheirosas as primeiras rosas,
E os primeiros beijos como têm perfume!

– O amor tem prantos de abandono
No coração que morre…
– As folhas tombam quando vem o outono,
E ninguém as socorre!

– O amor tem noites, noites inteiras,
De agonias e de letargos…
– Que tristeza têm as rosas derradeiras,
E os últimos beijos como são amargos!

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O amor bate na aorta (Carlos Drummond de Andrade)

Cantiga do amor sem eira
nem beira,
vira o mundo de cabeça
para baixo,
suspende a saia das mulheres,
tira os óculos dos homens,
o amor, seja como for,
é o amor.

Meu bem, não chores,
hoje tem filme de Carlito.

O amor bate na porta
o amor bate na aorta,
fui abrir e me constipei.
Cardíaco e melancólico,
o amor ronca na horta
entre pés de laranjeira
entre uvas meio verdes
e desejos já maduros.

Entre uvas meio verdes,
meu amor, não te atormentes.
Certos ácidos adoçam
a boca murcha dos velhos
e quando os dentes não mordem
e quando os braços não prendem
o amor faz uma cócega
o amor desenha uma curva
propõe uma geometria.

Amor é bicho instruído.

Olha: o amor pulou o muro
o amor subiu na árvore
em tempo de se estrepar.
Pronto, o amor se estrepou.
Daqui estou vendo o sangue
que escorre do corpo andrógino.
Essa ferida, meu bem,
às vezes não sara nunca
às vezes sara amanhã.

Daqui estou vendo o amor
irritado, desapontado,
mas também vejo outras coisas:
vejo corpos, vejo almas
vejo beijos que se beijam
ouço mãos que se…

Do Amor (Adélia Prado)

Assim que se é posto à prova, na cinza do óbvio, quando atrás de um caminhão vazando o homem que pediu sua mão informa: ‘está transportando líquido’. Podes virar santa se, em silêncio, pões de modo gentil a mão no joelho dele ou a rainha do inferno se invectivas: claro, se está pingando, querias que transportasse o quê? Amar é sofrimento de decantação, produz ouro em pepitas, elixires de longa vida, nasce de seu acre a árvore da juventude perpétua. É como cuidar de um jardim, quase imoral deleitar-se com o cheiro forte do esterco, um cheiro ruim meio bom, como disse o menino quanto a porquinhos no chiqueiro. É mais que violento o amor. Declamação:

Prazer e pesar (Gregório de Matos)

Um prazer, e um pesar quase irmanados,
Um pesar, e um prazer, mas divididos
Entraram nesse peito tão unidos,
Que Amor os acredita vinculados.

No prazer acha Amor os esperados
Frutos de seus extremos conseguidos,
No pesar acha a dor amortecidos
Os vínculos do sangue separados.

Mas ai fado cruel! que são azares
Toda a sorte, que dás dos teus haveres,
Pois val o mesmo dares, que não dares.

Emenda-te, fortuna, e quando deres,
Não seja esse prazer em dois pesares,
Nem prazer enterrado nos Prazeres.

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