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Lísis, de Platão (por Edith Hamilton)

“O interesse do diálogo Lísis não está no assunto da discussão mas na maneira em que se desenrola. Sócrates questiona dois jovens, amigos próximos, sobre o que é amizade. Eles estão certos de que sabem, mas quanto mais eles tentam explicar menos eles sente que realmente sabem. Eles percebem, com a ajuda de Sócrates, que todas as declarações que eles fazem são insatisfatórias. Mas sua meta não é de modo algum resolver-lhes as dificuldades. Ele diz que sabe tão pouco quanto eles. Quão ridículo é, ele lhes diz ao final, que todos eles, que são amigos, não saibam o que é a amizade.

Este método de ensino é a marca de Sócrates entre os grandes professores da humanidade. Todos os outros estariam preocupados em dar a Lísis e a seus amigos uma grande concepção de amizade, em direcionar-lhes a um elevado ideal, em formar em suas mentes juvenis um molde de nobreza que pudesse persistir. É certo que Sócrates poderia ficar satisfeito fazendo tudo isso; a razão por que ele não tentou é que ele não acredita que isso possa ser feito. Era sua convicção que a verdade não pode ser ensinada, ela tem de ser procurada. Seu único desejo ao conversar com os rapazes era fazer-lhes usar suas mentes. Para ele o melhor que lhes havia de ser feito era despertar-lhes para a reflexão. Desse modo eles poderiam finalmente direcionar a atividade a seu próprio mundo interior e examinar a si mesmos — “A vida que não é examinada não merece ser vivida” — e aprender a conhecer a si mesmos. Então, e só então, eles poderão descobrir a centelha do bem que há dentro deles, que eles sozinhos podem transformar em chama. Entre os diálogos, Lísis não tem paralelo como uma ilustração do método de Sócrates.”

(Edith Hamilton, em Plato — The Collected Dialogues)

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Laques, de Platão (por Edith Hamilton)

“Quando este diálogo é conjugado com o Lisis, o método pedagógico de Sócrates fica claro. Em ambos ele discute um tema que é perfeitamente familiar a todos os presentes, com o mesmo resultado. Por fim eles entendem que embora tenham sempre dado por pressuposto o conhecimento desse tema, não eram capazes de dizer de que se tratava justamente porque efetivamente não o conheciam. No Laques essa tema é a coragem, e a conclusão é mais surpreendente porque dois dos interlocutores são renomados generais, Laques e Nícias, e porque o último relata a grande coragem que ele viu Sócrates demonstrar no campo. Todos os três são exemplos evidentes daquilo que estão discutindo, mas isso não afeta a demonstração de Sócrates de que desde nenhum deles, ele inclusive, é capaz de definir o objeto da discussão, eles não têm dele um conhecimento real. Simplesmente agir corajosamente sem conhecer o que é…

Eutidemo, de Platão (Edith Hamilton)

“Este é talvez, de todos os diálogos platônicos, o que torna a Atenas de Sócrates e de Platão aparentemente mais distante de nós. Nós somos conduzidos de volta a um tempo em que a linguagem havia começado a ter grande importância em si mesma e em que os raciocínios eram geralmente expostos oralmente. Um trocadilho ou um duplo significado podia decidir uma importante discussão. Aqui Sócrates enfrenta Eutidemo e seu irmão, ambos assim chamados erísticos, ou contendores das palavras, e na sua batalha com Sócrates, que diz ser apenas um de seus alunos, esse tipo de artifício ocorre com frequência e se torna extremamente cansativo. Por exemplo, quando Sócrates pergunta pelo sentido de uma frase usada por Dionisiodoro, em resposta ele lhe diz: ‘Há alma nas coisas que têm sentido, quando elas têm sentido? Ou há apenas o sentido das coisas desalmadas?’ Sócrates responde, ‘Apenas as coisas com alma.’…

Como Sócrates recebeu as doutrinas dos ‘filósofos físicos’

Porque a filosofia de Sócrates não foge à regra, pode então ser expressa pela fórmula clássica A não é B, mas C. Isso quer dizer que as filosofias não nascem do nada, mas sim do confronto com as filosofias ou com as concepções de mundo que vieram antes.

E antes de Sócrates vieram, por definição, os pré-socráticos. Os primeiros deles são geralmente chamados de filósofos físicos — que eram uma mistura de cientistas e ascetas que refletiam sobre a natureza e sobre o fundamento de tudo o que existe. Perguntavam-se como tudo começou e qual é a razão de unidade de todas as coisas — ou seja, qual é a unidade por trás da multiplicidade de tudo quanto há. Tales de Mileto, o primeiro dos pré-socráticos, era conhecido como um dos Sete Sábios. Para esses cientistas ascetas a sabedoria era a posse da verdade sobre a natureza — natureza que há de ter estrutura…

Sócrates corrompeu a juventude ateniense?

O processo movido contra Sócrates se fundamentou na acusação de corrupção da juventude ateniense e de culto a deuses estrangeiros. É verdade que Sócrates não poupava a maioria de seus interlocutores quando os surpreendia defendendo opiniões infundadas. Mas será justo acusá-lo de corromper a juventude? Segundo a opinião de F. M. Cornford, a resposta é: sim e não.
“Não é de surpreender que os cidadãos mais velhos de Atenas, quando souberam (talvez por meio de desagradáveis conversas com seus próprios filhos adolescentes) que Sócrates incentivava os jovens a questionar todo preceito moral, não viram nenhuma diferença entre sua doutrina e a de Antifonte, concluindo que ele estava corrompendo os jovens. Se tomarmos nossa palavra ‘corromper’ em seu sentido literal, a acusação era verdadeira. Dizer aos jovens que, para obter a total liberdade da idade adulta, eles devem questionar toda máxima de conduta que receberam e julgar toda questão moral por si…

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