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Um criminoso e a sua culpa corrosiva: ‘Crime e Castigo’, de Dostoiévski

Crime e Castigo, de Fiódor Dostoiévski, é frequentemente incluído em listas como um dos cinco primeiros dos ‘melhores livros’ da literatura universal de todos os tempos. Escrito em 1866, não é um livro para crianças nem para alminhas que já se acreditam purificadas. É, sim, um livro para todos os responsáveis pelas misérias nossas de cada dia — grandes e pequenas misérias. Um livro para todos nós, enfim.

Por que você deveria ler o livro? Porque lê-lo é arriscar-se a exorcizar nossas culpas, expô-las à luz e a pagar por elas. Porque um homem atormentado por sua culpa não se sente responsável por nada e, paradoxalmente, arrisca-se a ver-se responsável por tudo. O livro é um magnífico exemplo desse paradoxo encarnado na pessoa de Raskholnikóv.

Seu autor, Dostoiévski, nasceu em 1821, em Moscou, o segundo de sete filhos, e faleceu em 1881, em São Petersburgo. Sua mãe morreu de tuberculose quando ele ainda era muito jovem. Seu pai, médico, morreu em circunstâncias suspeitas — não se sabe ao certo se morreu por apoplexia ou foi assassinado por seus empregados. Desde cedo, Dostoiévski teve contato com a grande literatura e chegou a traduzir Eugénie Grandet, de Balzac. Trocou pela literatura a perspectiva da seguir carreira na engenharia militar.

Dostoeievski1872Preso em 1849, acusado de conspirar contra Nicola I, da Rússia, depois de já ter escrito Gente Pobre (1845), Dostoiéviski ficou detido na Sibéria por cerca de uma década. Quando foi solto, demorou a conseguir permissão para residir em São Petersburgo.

Muito elogiado pelos críticos de sua época, o escritor é reconhecido como cristão da vertente Ortodoxa e conservador. Segundo Otto Maria Carpeaux, “sua obra inteira é um pretexto apaixonado contra o determinismo que lhe parecia o fundamento do materialismo ateu; (…) é espiritualista, proclamando a liberdade da alma humana, seja para o bem ou seja para o mal; e essa liberdade parecia-lhe inextrincavelmente ligada ao Evangelho e à fé na divindade de Jesus Cristo. Qualquer outra liberdade degeneraria fatalmente em nova tirania, fosse a tirania econômica dos liberais, fosse a tirania política dos socialistas. Por isso, Dostoiévski tornou-se deliberadamente reacionário: adorava a autocracia tzarista, abraçando firmemente o credo da Igreja Ortodoxa” (História da Literatura Ocidental, Vol. III, p. 2044).

A obra de Doistoiévski tem uma posição relevante na História da Literatura. Segundo ainda o mesmo Carpeaux, “Das suas contradições dialéticas, que se refletem nas interpretações contraditórias, nasceu uma grande poesia, grande e terrível. Ao terminar a ‘época da prosa’, do romance realista-naturalista, é Dostoiévski o primeiro grande poeta, embora poeta no gênero ‘romance’. Por isso, todo romance pré-dostoievskiano tem hoje algo de antiquado, pré-histórico. Dostoiévski insuflou ao gênero prosaico a poesia das paixões intelectuais, a poesia das discussões ideológicas, a poesia das análises psicológicas; até a poesia da grande cidade começa com a Petersburgo fantástica do Dostoiévski, iniciando-se com ele uma nova época da história da literatura universal, época que ainda não acabou” (p. 2049).

A edição que tenho é a das Obras Completas da Editora Nova Aguilar, de 1995, comprada há alguns anos por um bom preço na Estante Virtual. A tradução é de Natália Nunes. Desgraçadamente, já ao final da leitura, descobri que na minha edição (o segundo volume das Obras Completas) faltavam as folhas 1.185 a 1.193, justamente na parte em que Svidrigáilov começa a assediar Dúnia, a irmã de Raskhólnikov, e a convence a ir a seu apartamento. Desesperado, consegui localizar uma outra edição que tinha em casa, da Editora Nova Cultural (do Projeto Ler é Preciso), de 2002, da mesma tradutora, que me salvou momentaneamente da grave falha da Nova Aguilar. Apesar desse lamentável imprevisto, a edição da Nova Aguilar é boa de se ler, praticamente não tem falhas de digitação ou diagramação. Por vezes, ocorrem falhas de impressão — e isso faz com que uma ou duas frases assumam uma natureza um tanto oracular. Nada que impeça a leitura, porém.

Mantendo um ritmo de cem minutos de leitura diária, o livro pode ser lido em doze dias.

Os personagens principais da narrativa são o próprio Raskhólnikov, um estudante pobre cheio de si e repleto de teorias sobre o mundo e sobre o seu próprio valor; Alíona Ivânovna, a agiota assassinada por Raskholnikov; Lisavieta, sua irmã, também assassinada por ele; Marmieládov, casado com Ekatierina Ivânovna; Sonietchka, ou Sônia, filha dos dois últimos, prostituta, de coração puro, com quem Raskhólnikov se apaixona; Dúnietchka, ou Dúnia, irmã de Raskhólnikov; o Senhor Svidrigáilov, marido de Marfa Pietrovna, empregador de Dúnia; Piotr Pietrovitch Lújin, noivo de Dúnia; Razumíkhin, colega de faculdade de Raskhólnikov, que passa a namorar sua irmã; Iliá Pietróvitch Porfíri e Nikodim Fomitch, comissários investigadores; Zósimov, médico amigo de Raskholnikóv e de Razumíkhin; Pólienhka, irmã mais nova de Sônia; Praskóvia Pávlovna, a locadora do quarto de Raskholnikóv.

Alguns desses personagens se destacam, evidentemente. Entre outros: i) Sônia, uma jovem que se prostituía para diminuir a penúria da família, mostra uma notável abnegação desde que Raskhólnikov lhe confessou o crime até o cumprimento mesmo da pena, na Sibéria. Grande presença; e ii) Razumíkhin, que acaba se casando com Dúnia, irmã de Raskhólnikov. Amigo fiel, grande companheiro.

De que fala o livro? O livro trata da história de Raskhólnikov, um jovem estudante de direito de São Petesburgo, que coerente com sua visão de mundo e a título de sustentar os estudos, mata duas senhoras a machadadas, para roubar-lhe as jóias e o dinheiro. Sem que a princípio o personagem demonstre qualquer sentimento de culpa, ele vai ao longo da narrativa ‘caindo na real’, compreendendo a hediondez de seu ato, e vai trilhando seu próprio caminho até a expiação de sua culpa. É, enfim, a história de um jovem de mediana inteligência que se julgava acima da lei e da sociedade e a de seu gradativo arrependimento e confissão.

Questões que o livro pode trazer à reflexão:

  • Evidentemente, um ser humano não pode ser usado, ou ‘sacrificado’, como forma de satisfazer os projetos de outro. Especialmente quando esse outro é um adolescente mesquinho que se acha tão genial quanto Napoleão Bonaparte ou Newton. O que o faz pensar o contrário? Como um rapazote assim, de que o mundo hoje está cheio, percebe as coisas e as pessoas? Como fazer para, eventualmente, ‘estourar essa bolha’? Em que medida essa ‘fantasia’ é uma questão de origem espiritual?
  • Será que imersos em um ambiente de inflação legislativa, de extremo protecionismo social, de ativismo judicial e de populismo de esquerda não corremos o risco, nós mesmos, de ter tido a alma infectada por esse vírus que distorce nossa auto-imagem ao tempo em que nos enche de autocomplacência?
  • O caminho percorrido por Raskhólnikov desde o duplo homicídio até a confissão ao comissário pode ser narrado como o itinerário de um homem que se aproxima de sua consciência moral e, ainda que com alguma resistência, obedece-lhe. Esse impulso está presente em todas as personalidades criminosas?

A narrativa se passa em São Petersburgo em período não muito distante da primeira metade do século XIX. A questão é que Raskhólnikov (Rodka, para os amigos) é um jovem estudante que reside em São Petersburgo. Está sem dinheiro, teve de largar os estudos na Faculdade de Direito. Mora na pensão de Alíona Ivânovna, uma velha que lhe cobra sem cessar os aluguéis. É um jovem cheio de si, meio mal-humorado e com fé no seu valor próprio, que ele evidentemente exagera muito. Certa vez escuta, em um bar, uma conversa de dois jovens a respeito da velha usurária, a quem ele próprio recorria com frequência. A morte dela poderia beneficiar dezenas de famílias. Nasce nele a semente de uma ideia. Por que não matá-la?

Ele passava o dia sem trabalhar. Na verdade, trabalhava, esporadicamente, em traduções. Mas só quando se animava. Sua diarista, de nome Nastássia, certa vez lhe perguntou o que fazia o dia inteiro e por que não trabalhava, e ele respondeu: passo o dia pensando em coisas sérias. Mesmo endividado, ele não aceita o casamento da irmã, Dúnietchka, com Lujín, um advogado bem-sucedido. E trata de criar atritos entre ambos.

1361554648_RaskolnikovAté que toma coragem de vai à casa de Alíona Ivânovna, a velha usurária, com um machado e arrecadara sorrateiramente na casa de um vizinho. Mata-a com três machadadas, furta-lhe joias e objetos empenhados; Lisavieta, a irmã mais nova dela, entra na casa e ele também a mata, com uma machadada. Um visitante se aproxima, ele entra de novo no apartamento, fecha a porta e não o atende, naturalmente. Consegue escapar com alguns bens da velha. A partir daí começa o seu inferno particular. Ele esconde o resultado do latrocínio debaixo de uma pedra em um bairro distante. E tem encontros, casuais ou oficiais, com os comissários investigadores Iliá Pietróvitch e Nikodim Fomitch. Desde o começo ele já cogita se entregar, mas resiste. Fica adoentado, de cama. Recebe a visita e os cuidados de Razumíkhin, que acaba chamando um médico seu amigo, Zósimov, para tratar do amigo. Todos conversam sobre o duplo homicídio. Prenderam o pintor Nikolai, suspeito de ter cometido os assassinatos.

No decorre das investigações, descobrem que Raskhólnikov publicara um artigo sobre Direito Penal dizendo que há certo tipo de homens que estão acima da lei: “Existem no mundo alguns indivíduos que poderiam… isto é, não se trata de poderem, mas antes que teriam completo direito de cometerem toda a espécie de atos desonestos e de crimes, e para os quais a lei não existisse”. O artigo divide os homens em ordinários e extraordinários. “Os homens vulgares deviam viver na obediência e não têm direito de infringir as leis, pelo próprio fato de serem vulgares. Mas os extraordinários têm direito a cometer toda a espécie de crimes e infringir as leis de todas as maneiras, pelo próprio fato de serem extraordinários”. E prossegue: “Se as descobertas de Kepler e de Newton, em consequência de certas circunstâncias, não tivessem chegado ao conhecimento dos homens de outra maneira senão mediante o sacrifício da vida dum, dez, cem ou mais homens, que se opusessem a essa descoberta ou se atravessassem no seu caminho como obstáculos, Newton, então, teria tido o direito e até o dever… de eliminar esses dez ou esses cem homens, a fim de que as suas descobertas chegassem ao conhecimento de toda a humanidade”.

Cercado pelos comissários e por sua própria consciência, e já se sentindo culpado, Raskhólnikov começa a delirar, a ouvir acusações de assassinato nas ruas; delira dizendo-se vítima da velha; dizendo-se Napoleão etc. A história que se segue é um encadeamento de lampejos de luz e de trevas a movimentar e a atormentar a consciência de Raskhólnikov, que ora se decide entregar, ora se convence da justiça de seu ato homicida. A jovem Sônia, filha do conselheiro titular Marmieládov, é quem o auxilia nesse itinerário, para cujo êxito o trecho do Evangelho sobre a ressurreição de Lázaro, que ela lê para ele, a seu pedido, é fundamental.

Lá pelas tantas, Raskhólnikov conta a Sônia o seu crime. Ela se compadece dele. ‘Agora você é uma criatura mais desgraçada que eu. Não vou abandoná-lo.’ Ela tenta justificar o crime dele, mas ele próprio não aceita: “Foi para roubar! Não continues, Sônia! (…) Não, Sônia, não — murmurou ele, voltando-se e deixando cair a cabeça. — Não tinha assim tanta fome… Eu, de fato, queria ajudar a minha mãe; mas… isso também não é completamente verdade…”. Por fim, Raskhólnikov confessa a Sônia que é mau, covarde e vil. E diz que matou a velha porque queria ser Napoleão. E explica: “Se Napoleão, por exemplo, se encontrasse no meu lugar e não tivesse tido, para começar a sua carreira, nem Toulon, nem o Egito, nem a passagem de Mont-Blanc, e em vez de todas essas coisas belas e monumentais tivesse tido simplesmente uma ridícula velhota, viúva dum assessor, à qual fosse preciso matar para lhe tirar o dinheiro que tinha na arca (para fazer a sua carreira, compreendes?), vamos lá a ver, que teria ele feito, então, se não tivesse outro recurso? Não teria tido vergonha de que aquilo não fosse demasiadamente pouco monumental e delituoso? (…) Não, ele não só não teria tido vergonha, como nem sequer lhe teria passado pela cabeça que aquilo não era monumental… e até não teria de maneira alguma compreendido por que é que havia de ter vergonha. E visto que não tinha outro recurso, teria estrangulado sem a menor hesitação, sem se deter a refletir”.Ele diz que chegou a fazer tudo aquilo por meio de ‘raciocínios’; e que quem matou a velha foi o Diabo. Que ele, Raskhólnikov, matou foi a si mesmo. Sônia fala que ele deve se confessar e se entregar. ‘Aceitar o sofrimento e redimir-se por meio dele’. Mas ele responde com cinismo, e diz que não se apresentará. Ao ver o bom sentimento que Sônia têm por si, Raskholnikóv sente-se mal. E já não quer que ela ‘o acompanhe no presídio’, caso ele seja preso, como há pouco ela falara. Parece sentir-se indigno desse amor.

O comissário e juiz de instruções Porfíri fica ‘cercando’ Raskhólnikov e estimulando, com certo grau de cinismo e ironia, a sua confissão: “Quem é o assassino? — repetiu, como se não acreditasse no que acabava de ouvir. — Pois o assassino é o senhor, Rodion Românovitch! É o senhor o assassino! — acrescentou, quase em voz baixa, num tom de absoluta convicção”. “Eu não sou o assassino — balbuciou Raskhólnikov, tal qual uma criança assustada, quando é apanhada em flagrante”. Porfíri pede que Raskhólnikov confesse logo. Ele desconversa e diz que não precisa da ajuda do juiz de instruções.

Outra peça fundamental nessa história é o Senhor Svidrigáilov, ex-patrão de Dúnia, irmã de Raskhólnikov. Ele ouve, por trás das paredes de seu quarto, a confissão que o rapaz fez a Sônia, e pretende usar essa informação privilegiada para se casar com Dúnia.

Raskhólnikov decide se entregar à polícia, mas se nega a reconhecer a gravidade de seu crime. Diz que matou um piolho asqueroso e daninho e que por tal conduta mereceria ter perdoados os pecados. Vai conversar com Sônia a esse respeito e lhe pede o pequeno crucifixo de Lisavieta. Na rua, lembra-lhe do que Sônia lhe sugeriu e o implementa: “Pôs-se de joelhos a meio do terreno, fez uma vênia à terra e beijou essa terra suja com prazer e felicidade. Levantou-se e tornou a ajoelhar-se outra vez”. Ele se ajoelha pela segunda vez e vê Sônia a certa distância. Ela acompanhava o seu calvário. Ele finalmente entra no comissariado e aí então confessa o seu crime.

Crime_Punishment__Raskolnikov_by_Sierraness23É processado, julgado e condenado. Sua sentença é mais branda do que o esperado: oito anos de trabalhos forçados na Sibéria. Contaram a seu favor alguns incidentes em que ele voluntariamente ajudara pessoas em situação de penúria ou de perigo. Também ajudou a abrandar o ânimo dos juízes às circunstâncias do crime, o fato de ele não se ter aproveitado dos objetos furtados e a suspeita de que não agiu em seu perfeito juízo.

Refletindo sobre seu crime, ele ainda não se mostra arrependido de tê-lo praticado, mas sim de ter ido denunciar-se. Essa — ele pensa em seu resistente cinismo — era a prova de que não era ‘digno’ de ter cometido o crime. Sônia visitava o presídio com assiduidade e acabou caindo nas graças dos demais presos, que de resto não se davam bem com Raskhólnikov. Eles zombavam dele e de seu crime. Ela, porém, era atenciosa com eles e lhes prestava favores junto a seus familiares. Ela percebe que Raskhólnikov a ama. Raskhólnikov guarda em sua cela os Evangelhos que pedira a Sônia. O tempo da pena será o tempo de maturação de uma nova vida para Raskhólnikov, sete anos nos quais ele se transformará: “Mas aqui começa já uma nova história, a história da gradual renovação dum homem, a história do seu trânsito progressivo dum mundo para outro, do seu contato com outra realidade nova, completamente ignorada até ali”.

Essa realidade nova, ‘a história da gradual renovação de um homem’, não foi narrada por Dostoiévski em nenhuma outra obra. Provavelmente não deu tempo, provavelmente ele não achou rigorosamente necessário; pois todos conhecemos os contornos desse renascimento a que somos convidados. A maioria de nós não sabia, entretanto, que Aquele que ‘faz novas todas as coisas’ começa por acender pequenas luzes no porão sombrio de nossas consciências obscurecidas.

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É quase uma imprudência sair por aí divulgando minhas impressões de leitura sobre essa grande obra — eu que a li, por ora, apenas uma vez. Mas penso que é uma imprudência calculada.

A resenha escrita que fiz da obra já foi publicada aqui há alguns meses.

Eis o vídeo:

https://www.youtube.com/watch?v=G40UIgpjIEU

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Pretendo adicionar, com o tempo, os comentários que o próprio autor dedicou a cada uma das obras e, sempre que possível, links para vídeos que contenham boas execuções.

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